Remixando

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[Do latim innovare.]

Verbo transitivo direto.

1. Tornar novo; renovar.

2. Introduzir novidade em.

Já notou como tudo que existe parece igual ao que era a várias décadas? A gente ainda ouve Thriller, a Xuxa ainda canta nas manhãs de sábado, o Faustão ainda faz as mesmas piadas no domingo, um casal se separa e se reconcilia toda semana na Malhação… Então, o que muda? Afinal, o jovem só diz que isso é “brega”, aquilo é “careta” ou “tá por fora”. As garotas continuam usando calças legging, os rapazes ainda usam All Star, debutantes ainda dançam valsa, amigos ainda se juntam e formam bandas de rock que nunca saem da garagem. Repito: CADÊ O NOVO?

Quando você critica sua mãe por gostar de Roberto Carlos, ou seu pai, por curtir Biquíni Cavadão, pegue o encarte do seu CD do Jota Quest e procure o compositor de “Além do Horizonte”, ou pesquise a letra da música “Adultério”, do Mr. Catra. Você vai ver que, de alguma forma, nós nunca abandonamos o nosso passado (é uma daquelas “máximas universais”, sabe?).

Vivemos um eterno “remix”. Eu poderia até colocar aqui a definição de remix, mas acho que não precisa, já que a internet está cheia disso. E não só na música: experimente fazer uma busca sobre qualquer assunto (Bill Clinton, por exemplo): aposto que, se você abrir 15 sites diferentes, pelo menos em 5 você lerá as mesmas coisas, palavra por palavra. Algumas pessoas têm a cara de pau de copiar, até mesmo, os comentários pessoais do autor do artigo. Quer saber? Isso nem pode ser considerado um remix – tá mais pro velho “Control+C, Control+V”. Remix de verdade é aquilo que a gente percebe no dia-a-dia: sabia que o método de se comunicar na segunda guerra mundial era por um aparelho no qual alguém escrevia um texto e o mesmo aparecia automaticamente do outro lado da “linha”? Pois é, e não pense que estou falando de MSN, era uma coisinha chamada Telex. Isso sim, é um exemplo de “remix”.

Não, eu não esqueci do trechinho de dicionário ali em cima. Inovar, pode-se dizer, é o mesmo que remixar. Agora, sim, um exemplo de música: uma música lenta, como “Yesterday”, dos Beatles, pode se tornar o maior sucesso em uma danceteria metropolitana: é só adicionar uma batida psytrance e colocar uns efeitos de delay (você não precisa entender isso, não se preocupe). Do mesmo jeito que ocorre com a música, podemos aplicar o conceito de inovação em qualquer coisa: na moda, na política, na TV, nos esportes, na pesquisa.

Na pesquisa?

Com certeza. O que as pessoas de hoje (e isso pode incluir você) pensam sobre a ciência é totalmente diferente do que ela é de verdade. Alguém sem contato suficiente com a pesquisa imagina um cientista como uma pessoa de óculos, touca branca, jaleco, luvas cirúrgicas e um tubo de ensaio balançando e expelindo uma fumaça colorida. Ele é um cientista, mas nem todos são assim. Na verdade, esta é uma exceção: você só vê cientistas como esse (em sua maioria, químicos) dentro de laboratórios, ou dando entrevistas em programas de sexta à noite. A verdadeira cara da pesquisa é aquela vista nas ruas, nas escolas, nas casas. Por todos os lados, você pode ver o resultado de longos anos de dedicação e comprometimento com a ciência; ao mesmo tempo, há ali iniciativas de alguém que teve uma ideia simples e resolveu aplicá-la. Tudo isso é ciência.

A ciência que vemos nos filmes é aquela dos aparelhos de última geração, que flutuam ou se teletransportam em frações de segundo. A ciência do dia-a-dia é aquela lâmpada colorida, inventada para gastar menos energia, que você viu no poste ao lado da sua casa. É aquele detergente biodegradável que estão anunciando na TV. É aquela ONG que se instalou na rua de baixo. Atitudes e iniciativas como essa são o que você pode chamar de pesquisa, de ciência, de inovação. Afinal, “nada se cria do nada”. Essa é uma frase minha, que eu tirei do Chacrinha, que copiou do Lavoisier, que remixou do Descartes, que deve ter pego de algum filósofo grego da Antiguidade Clássica. Não é à toa que nem os próprios lançamentos do cinema possuem um roteiro inédito – O dia em que a Terra parou, Guerra dos Mundos, 20.000 Léguas Submarinas, Os Três Mosqueteiros, e por aí vai. A ciência é só mais uma área do conhecimento humano que segue a regra universal – adapta-se, renova-se, evolui. Inova.

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